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Escrito e dirigido por Kitty Green, um dos melhores filmes de 2020 aborda temas da era #MeToo.
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“A Assistente” apareceu em várias listas de melhores de 2020 (inclusive a minha), tem 92% de críticas elogiosas no Rotten Tomatoes e apenas 25% de avaliações positivas dos usuários. Por quê? Porque o filme da diretora Kitty Green é um reflexo direto da era #MeToo, de quando milhares de mulheres passaram a relatar histórias de abuso sexual no ambiente do trabalho. O tema é indigesto a uma parcela reacionária da população, que tem como costume bombardear qualquer produção que não atenda aos anseios do homem branco.

Julia Garner interpreta Jane, uma jovem assistente de um poderoso produtor. Entre tarefas cotidianas, como atender telefonemas e preparar o café, ela percebe uma atmosfera tóxica dentro do escritório. Seu chefe nunca aparece de fato. Sua voz é ouvida, mas seu rosto nunca é mostrado – seu nome também não é mencionado, mas todos sabem quem é “ele” (até você, leitor ou leitora). Durante um longo dia, Jane compreende que os abusos cometidos pelo chefe fazem parte de um sistema muito maior e ainda mais perverso do que ela imaginava.

A sutileza do roteiro e da direção de Green, que passou cerca de um ano fazendo entrevistas sobre a Miramax, companhia fundada pelos irmãos Bob e Harvey Weinstein, se relaciona muito bem com uma conjuntura em que as insinuações são tão fundamentais, como é em grande parte dos casos de abuso sexual. Quando a violência é velada e as ameaças são indiretas, resta ao espectador unir os pontos – uma tarefa que é executada com maior facilidade por quem já passou por situações parecidas, isto é, uma em cada três mulheres. 

Apesar da pandemia e dos cinemas fechados, 2020 foi um ano importante para as mulheres em Hollywood, tanto na frente como atrás das câmeras. Obras como “A Assistente”, “Never Rarely Sometimes Always” e “Promising Young Woman”, todas dirigidas por mulheres jovens, tratam de uma vivência feminina permeada pelo assédio e pela violência sexual. Pelos olhos de Jane em “A Assistente”, interpretada com maestria por Julia Garner, vemos como as práticas abusivas são perpetuadas no trabalho e na sociedade como um todo.

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