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Documentário sobre esquema de pirâmide mistura Fyre Festival com NXIVM
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Lançado no Brasil com o péssimo nome “As Faces da Marca”, o documentário original da Amazon Prime Video trata de um esquema de pirâmide com características de seita religiosa. A americana LuLaRoe (junção dos nomes das netas dos fundadores, DeAnne e Mark Stidham) deveria apenas vender leggings com estampas divertidas, mas conquistou revendedores da marca com discursos motivacionais direcionados às mães de subúrbios predominantemente brancos. Quanto mais loiras, magras e submissas, melhor.

A promessa era receber um salário de tempo integral trabalhando meio período em casa, com tempo suficiente para cuidar das crianças e fortalecer os laços matrimoniais. As mães atuariam como revendedoras da Avon ou da Mary Kay, mas recebiam muito mais ao recrutar outras revendedoras do que pela venda dos produtos em si. Quando o bônus alcançava os seis dígitos, os maridos eram encorajados a se aposentar e “tomar conta” do negócio de suas esposas. Com o casal dependendo totalmente da marca, seria quase impossível abandonar o esquema.

Dos mesmos diretores de “Fyre Fraud”, Julia Willoughby Nason e Jenner Furst, “As Faces da Marca” lembra documentários sobre seitas religiosas, como “The Vow” e “Seduced”, no sentido em que o jargão feminista, com termos como “empoderamento” e “girlboss”, são cooptados para atrair e tirar proveito de mulheres. Ao longo dos quatro capítulos, vários temas são tocados (racismo, misoginia, capitalismo e religião), mas nada é muito bem elaborado. Nason e Furst optam por uma abordagem mais superficial, com tom de fofoca e não de análise profunda.

De fato, é curioso ver, por exemplo, como as leggings eram horrorosas, com estampas sugestivas em locais indesejados. Os diretores também sabem tirar proveito da entrevista com os idealizadores da LuLaRoe, porque sabem que DeAnne, principalmente, é uma personagem quase tão intrigante quanto Joe Exotic, de “Tiger King”. Não há nada de errado com um documentário que pretende ser tão divertido quanto uma legging com desenho de hambúrguer, mas fica uma sensação de má qualidade, como um tecido fino que rasga como papel.

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