Para a jornalista e autora Dana Schwartz, não é uma coincidência que a única mulher a ganhar o Oscar de melhor direção foi Kathryn Bigelow por “Guerra ao Terror” (2010), com uma história sombria e incrivelmente masculina. Para ela, os guardiões da cultura dominante estipulam critérios bastante limitados para um cinema “renomado”. Basta considerar as obras que mais acumulam indicações: filmes de guerra e dramas históricos repletos de nostalgia.
Enquanto isso, obras como “As Golpistas”, “Adoráveis Mulheres” ou “A Despedida”, filmes que valorizam a experiência feminina, ainda são considerados “café com leite” e tratados como um entretenimento de nicho ou de menor importância. Greta Gerwig, diretora de “Adoráveis Mulheres”, acredita na existência de uma “hierarquia das histórias” – no topo da pirâmide, está a violência masculina. Só isso explicaria, por exemplo, o sucesso de “Coringa”, um filme sem qualquer consistência que foi elevado ao status de arte por tratar da angústia masculina.
“Lady Bird – A Hora de Voar”, filme de estreia de Gerwig, foi indicado em 5 categorias do Oscar (incluindo melhor filme, direção, roteiro original, atriz principal e coadjuvante) e saiu da cerimônia de 2018 com as mãos abanando. Muitos acharam justo, pois “Lady Bird” trata do relacionamento tragicômico de uma adolescente com a sua mãe, uma historinha frívola de “sessão da tarde”. Vale refletir, no entanto, se o tratamento dado ao filme seria o mesmo se os protagonistas fossem homens, se Gerwig retratasse as agruras de um relação entre pai e filho, com direito a embates físicos.
Com Saiorse Ronan, Beanie Feldstein e Laurie Metcalf, “Lady Bird” é uma comédia doce (mas que nunca abusa do sentimentalismo) sobre a passagem de uma garota adolescente para a vida adulta. Em seu processo de amadurecimento, ela lida com as diferenças de classe, o desejo de fazer parte do grupo rico e descolado do colégio e também a perda da virgindade. Aos poucos, ela aprende a dar valor a tudo que mais lhe causava vergonha: a vida simples no subúrbio de Sacramento e o amor da própria mãe.
“Lady Bird – A Hora de Voar” está disponível na Amazon Prime Video.