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Com 6 indicações ao Oscar, "Minari" é uma história legitimamente americana.
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“Minari – Em Busca da Felicidade” é um filme americano. Escrito e dirigido por um americano, sobre uma família americana, filmado nos Estados Unidos, com o selo da produtora A24 (também americana). Mesmo assim, concorreu como melhor filme estrangeiro na cerimônia do Globo de Ouro de 2021 – e venceu. Tudo porque a maior parte do diálogo não se dá em inglês, razão que faria algum sentido se, por exemplo, “Bastardos Inglórios”, do diretor Quentin Tarantino, também tivesse competido como um filme estrangeiro.

Toda a controvérsia escancarou o racismo da Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, que não soube enxergar a história de pessoas não brancas como legitimamente americana. E como é americana! O jornalista Mark Harris salientou que “Minari” é um drama otimista sobre uma família americana de classe trabalhadora, que se une apesar das dificuldades da economia e do destino. É o tipo de filme que seria indicado ao Oscar 40 ou até 80 anos atrás, mas que, por trazer atores de ascendência coreana, foi considerado como uma “sinalização de virtude”.

De fato, “Minari” parece um clássico. O tema e o tom nostálgico lembram os dramas familiares de John Ford, principalmente “Como Era Verde Meu Vale” (1941). Passado nos anos de 1980, às vésperas da presidência de Ronald Reagan, o drama autobiográfico, escrito e dirigido por Lee Isaac Chung, trata do processo de adaptação de uma jovem família que se muda da costa oeste dos Estados Unidos para o interior do Arkansas. O talentoso Steven Yeun interpreta Jacob, o pai. Yeri Han dá vida à Mônica, a mãe. E Noel Cho e Alan S. Kim vivem os filhos, Anne e David.

Jacob quer se tornar fazendeiro para prover por toda a família, mas Mônica parece duvidar do novo estilo de vida, ainda mais longe da cidade grande. Entre contratempos e dificuldades diversas, a sogra de Jacob, Soonja (Youn Yuh-jung, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante por este papel) chega da Coreia para morar com a filha e ajudar a cuidar dos netos. O titulo “Minari” se refere à uma planta que cresce mesmo sob as condições mais adversas, assim como os personagens que buscam realizar o sonho americano.

Trata-se de um drama repleto de ternura, que lida com as dificuldades como uma parte elementar do processo de crescimento, sem nunca recorrer ao trágico ou ao niilismo. Cada personagem é elaborado com delicadeza e complexidade, sobretudo na relação entra o pequeno David, nascido nos Estados Unidos, e a avó coreana. Neto e avó representam duas forças aparentemente contrárias, uma no sentido da assimilação e a outra no sentido da resistência cultural. A tensão entre os dois é o cerne da formação da América, uma nação composta por imigrantes.

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