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Produções como “Fallout”, “Xógum”, “X-Men '97” e o novo “Planeta dos Macacos – O Reinado” tratam do "nós contra eles".
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Ainda não chegamos na metade de 2024, mas um tema vem se repetindo em Hollywood. Se, em pleno ano de eleições americanas, “Guerra Civil” se melindrou diante da polarização política, produções como “Fallout”, “Xógum”, “X-Men ’97” e o novo “Planeta dos Macacos – O Reinado” foram direto no cerne do “nós contra eles”. Em seus respectivos universos, como um lado pode confiar no outro?

Em “Fallout”, por conta de um apocalipse nuclear, a humanidade é dividida entre os privilegiados que puderam se esconder em abrigos subterrâneos e aqueles que ficaram na superfície, à mercê dos efeitos da destruição generalizada. Já em “Xógum”, há o conflito entre o branco que enxerga os japoneses como selvagens e os japoneses que enxergam o branco como selvagem.

O mais evidentemente político, no entanto, é “X-Men ’97”, que dá sequência à animação clássica dos anos 1990. Nela, a morte de Charles Xavier precipita um acordo de paz entre humanos e mutantes – mutantes, é claro, representando todas as minorias perseguidas, sejam judeus, negros e/ou pessoas LGBTQ. Só que a promessa de paz é apenas superficial.

Há um texto excelente sobre a história do vilão Magneto nos quadrinhos, em relação à política externa de Israel e à identidade judaica como um todo. Magneto, que já foi chamado de Erik, Max e Magnus, foi mandado para um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial – ou seja, ele tem motivos de sobra para desprezar a raça humana.

A dinâmica entre o Professor X, que acredita numa coexistência pacífica entre humanos e mutantes, e Magneto, que prega uma defesa ostensiva dos mutantes contra a humanidade, é bastante comparada com a de Martin Luther King e Malcolm X. Pacifistas ou não, ambos líderes do movimento negro foram assassinados antes dos 40 anos. Fica fácil dar razão a Magneto:

“E por que não? Leia alguns quadrinhos de ‘X-Men’ e você vai perceber que a característica fundamental da franquia – a ideia dos mutantes como eternos representantes dos judeus, dos negros ou das pessoas queer – é o seu pessimismo essencial. Em ‘X-Men’, a vida da minoria é totalmente definida pela opressão. Avanço algum pode durar; progresso é uma ilusão; em uma propriedade intelectual sem fim, mutantes devem sempre ser odiados e temidos[…]Se a integração do Professor Xavier nunca pode chegar, então a hora de Magneto está sempre por perto.”

Asher Elbein, jornalista e autor do artigo, compara o vilão com as investidas de Israel – uma nação que distorce a memória do Holocausto para justificar qualquer brutalidade que venha a perpetrar. Afinal, um justiceiro que só ataca pessoas más, sem qualquer prejuízo aos inocentes, é uma devaneio fantasioso. E, assim, o judeu Magneto também se transforma num nazista (pelo menos, nos quadrinhos).

No embate entre os odiados e os odiosos, tem de haver um meio-termo entre a passividade de Xavier e a violência de Magneto. Em “Planeta dos Macacos – O Reinado” (que, assim como “X-Men ’97”, também começa com a morte de um líder), a vila do protagonista Noa é atacada por um bando de primatas que desvirtuam as palavras de César, herói da trilogia anterior.

Aqui, César é um substituto óbvio para Jesus. Se alguns deturpam os seus ensinamentos, outros os levam à risca, como o misericordioso Raka. Noa precisa escolher qual caminho seguir para liderar os sobreviventes rumo à salvação. E é justamente a preservação da cultura (o hábito ancestral da escalada e o ritual da música) que o leva à vitória.

Com mais dois filmes adiante, “Reinado” só estabelece a tensão entre os diferentes grupos de macacos, mas também entre os humanos que ainda restam e os macacos “aliados”. Aqui também, há uma promessa efêmera de paz. Os macacos podem confiar nos humanos? Os humanos podem confiar nos macacos? Noa irá alcançar o ponto médio entre Xavier e Magneto?

Nas várias guerras civis de 2024 e além, o importante é nunca perdermos de vista quem nós somos.

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