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**Esta resenha foi paga por um leitor via PicPay.

Há tantas formas diferentes de destroçar “Coringa”, tantos argumentos válidos contra esta monstruosidade, é até difícil de escolher por onde começar. Na verdade, chamar “Coringa” de “monstruosidade” já é um elogio, pois o filme não é horrível o suficiente para causar uma reação tão forte. É bobo, infantil, ridículo, incoerente, sem estrutura, sem ritmo, sem foco, sem ideias. É uma mistura vagabunda de dois filmes de Martin Scorsese, mas feita por alguém que passou longe, muito longe de entender o que torna “Taxi Driver” e “O Rei da Comédia” tão bons. É exatamente o que um idiota sem conhecimento de cinema esperaria de um filme “foda”.

Com o empenho de sempre, Joaquin Phoenix interpreta Arthur Fleck, um palhaço que sofre de uma espécie de síndrome de Tourette, mas com ataques involuntários de riso e sempre nos piores momentos possíveis. É uma interpretação bastante literal de “O Homem Que Ri” (1928), clássico do cinema mudo que inspirou a criação do vilão nos quadrinhos da DC. Na versão de Paul Leni, com Conrad Veidt como o protagonista, o personagem é desfigurado com um sorriso permanente e acaba virando uma atração bizarra de circo.

“O Homem Que Ri” é um melodrama romântico, baseado na obra de Victor Hugo, mas não há como entender por que o diretor Todd Phillips decidiu, em pleno ano de 2019, retratar todas as interações de Arthur, um pobre coitado que só queria dar uma alegria para o povo, com uma crueldade cartunesca de vilã de novela da Globo – tudo acompanhado por uma trilha sonora constante de cordas sombrias, como se o diretor não acreditasse na capacidade do espectador em perceber que as humilhações que Arthur sofre são mesmo muito, muito tristes.

No início, um dos delírios de Arthur nos mostra que tudo o que ele realmente quer é ser reconhecido como uma boa pessoa, como um humorista talentoso e o filho que o apresentador Murray Franklin (Robert De Niro) nunca teve. Sua inocência seria tocante se o roteiro se mantivesse fiel à premissa. Depois de passar meia hora caracterizando Arthur como um ingênuo que mal sabe escrever, ele se torna consciente da própria classe social e joga a culpa dos seus problemas na sociedade, no magnata Thomas Wayne e, é claro, no próprio ídolo que não topa ser a sua figura paterna. A mãe e os colegas de trabalho também são responsáveis pela sua infelicidade.

Sem um personagem sólido ou uma motivação consistente, que não mude de uma hora para a outra, resta ao diretor adicionar mais uma dancinha em câmera lenta, quase como uma aula de tai chi chuan. É um desperdício do talento de Phoenix, tão brilhante em “Você Nunca Esteve Realmente Aqui” (2017), um filme infinitamente melhor. E um desperdício, é claro, de Robert De Niro, Frances Conroy, Zazie Beetz e Marc Maron. “Coringa” é, afinal, uma forma elaborada que Todd Phillips encontrou de continuar fazendo piadas de anão e, ao mesmo tempo, reclamar da “patrulha do politicamente correto”, tudo com uma fachada falsa de filme ousado e artístico.

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