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Com título pouco atraente no Brasil, documentário sobre casal de vulcanólogos é um dos melhores do ano.
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Pelo título escolhido no Brasil, “Vulcões – A Tragédia de Katia e Maurice Kraft” pode parecer mais um documentário banal produzido pela National Geographic. O nome original, no entanto, “Fire of Love” (ou “O Fogo do Amor”, em tradução livre) suscita impressões poéticas que são mais condizentes com a obra dirigida pela americana Sara Dosa.

Katia e Maurice Kraft foram dois vulcanólogos franceses, casados, que viajavam o mundo estudando vulcões em erupção e os seus efeitos, muitas vezes arriscando as próprias vidas. O casal classificava os “vulcões vermelhos”, aqueles que soltam um rio de lava, como os menos perigosos; e os “vulcões cinzas”, aqueles que expelem uma nuvem de fumaça e são explosivos, como os mais perigosos.

Foi um vulcão cinza que, por fim, matou o casal em junho de 1991, no Japão, quando Katia tinha apenas 49 anos e Maurice tinha 45. Ainda que a morte tenha sido prematura, a “tragédia” que o título brasileiro menciona foi antecipada e, até certo ponto, almejada pelos vulcanólogos, que declaravam o desejo de morrer juntos, fazendo o que amavam.

“Vulcões” impressiona pelas imagens de um dos fenômenos mais destruidores da natureza, mas é a história de um amor igualmente avassalador que se destaca – não só o amor que Katia e Maurice sentiam um pelo outro, mas também a milagrosa paixão compartilhada pelo misterioso subterrâneo de nosso planeta.

Com músicas da dupla francesa Air (vale a pena conferir a trilha sonora completa no Spotify), há momentos quase eróticos em que Katia acaricia pedras vulcânicas para a câmera como se fossem mamilos. Com a narração sussurrada da atriz e diretora Miranda July, “Vulcões” torna sensual o que poderia ser uma palestra estéril sobre geologia.

Werner Herzog também teve acesso às imagens capturadas pelos Kraft e lançou o seu próprio documentário, chamado “The Fire Within: A Requiem for Katia and Maurice Kraft”, mas ainda que o diretor alemão utilize as gravações de maneira mais cinematográfica e contemplativa, Herzog parece hipnotizado pelas imagens em si e não tão interessado pela história do casal.

É com a obra de Dosa, que também utiliza entrevistas e anotações dos vulcanólogos, que temos um vislumbre maior de quem eles eram e por que faziam o que faziam – e, assim, um fascínio quase irracional chega a parecer mais compreensível, e até invejável, para quem vive no conforto da civilização, longe de qualquer perigo.

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