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Documentário revela bastidores escabrosos da Nickelodeon nos anos 2000.
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Infelizmente, já estamos acostumados com o arquétipo do ex-ator mirim que, por uma mistura de pais aproveitadores e abusos escabrosos, acaba se afundando na bebida e nas drogas. Afinal, até pouco tempo, era comum se referir ao assédio sexual cometido por poderosos à la Harvey Weinstein como um mero “teste do sofá”, uma ocorrência corriqueira da indústria.

Mesmo sabendo como essa história termina, ainda nos espantamos. E assistimos esses documentários baseados em traumas horrendos com uma mescla de pena, choque e fascínio – já que ainda estamos no reino ambivalente do true crime.

Se, por um lado, é importante denunciar o que acontece por trás de portas fechadas, por outro, trata-se também de um triste espetáculo da dor alheia – mas se trouxer algum alívio às vítimas, que seja. Disponível na Max, a minissérie “O Lado Sombrio da TV Infantil” não é o mais delicado do gênero, mas parece ter tido algum resultado positivo.

Apesar do título genérico, “O Lado Sombrio da TV Infantil” trata especificamente dos bastidores da Nickelodeon, canal infantil bastante popular nos anos 2000, e da cultura tóxica que o produtor Dan Schneider, então queridinho da emissora, promovia num set cheio de crianças. Schneider, é claro, já se “desculpou”, mas daquela forma típica de quem não aceita a responsabilidade por nada.

Os problemas vão dos mais sutis, como esquetes com um questionável teor sexual que só adultos compreenderiam, aos piores imagináveis. O ator Drake Bell, estrela da série “Drake e Josh”, reconta o abuso sexual que sofreu sob a tutela de um funcionário da Nickelodeon – crime que passou batido pela imprensa na época.

Documentários recentes, como “A História de Brooke Shields” e “O Garoto Mais Bonito do Mundo” já trataram do caminho perverso que as crianças percorrem no ramo do entretenimento, especialmente quando são sexualizadas. A verdade, porém, é que a história de Hollywood é permeada pelas mais variadas violações de direitos.

Quando criança, o comediante Buster Keaton se apresentava com a família em espetáculos de vaudeville. Seu figurino contava com uma alça para que o seu pai pudesse pegá-lo e arremessá-lo pelo palco. Com alguns ossos quebrados durante a vida, ele se tornou um dos primeiros dublês de ação do cinema, mas caiu em desgraça nos anos de 1930 por conta do alcoolismo.

Para fazer “O Mágico de Oz”, Judy Garland trabalhava longas horas e era mantida a base de pílulas – ora para acordar, ora para dormir. Considerada gorda para o papel, foi forçada a usar um espartilho e a obedecer uma dieta líquida de apenas canja e café preto. Para aplacar a fome, também era incentivada a fumar. Em 1969, morreu por overdose de barbitúricos.

Atores mirins de clássicos da sessão da tarde também partiram cedo, como Corey Haim (“Os Garotos Perdidos”) aos 38 anos. Já River Phoenix (“Conta Comigo”), Brad Renfro (“O Cliente”) e Jonathan Brandis (“A História Sem Fim 2”) nem chegaram aos 30. Em Hollywood, as tragédias são infindáveis – e o impulso para impedi-las é insuficiente.

Na Califórnia, a lei proíbe que pessoas condenadas por assédio sexual trabalhem com crianças na indústria do entretenimento. Qualquer um que for trabalhar com menores deve disponibilizar seus antecedentes criminais e obter uma licença específica. Contudo, se a criança estiver acompanhada por um responsável, não é obrigatório checar os antecedentes de toda a equipe.

Como “Lado Sombrio” bem mostra, o responsável que der muito trabalho para o produtor pode provocar a demissão da criança – criança esta que, muitas vezes, é o ganha-pão da família inteira. No país do “self made man”, a responsabilidade é sempre do indivíduo. E quando os mais vulneráveis não são protegidos, os poderosos fazem a festa.

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