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Seguindo na mesma reinvenção realista de "O Homem Invisível", "Lobisomem" mostra que foi mesmo concebido durante a pandemia.
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2025 será monstruoso. Além de “Nosferatu”, adaptação não autorizada de “Drácula”, teremos a versão de Guillermo del Toro de “Frankenstein” e o possível musical de Maggie Gyllenhaal, inspirado em “A Noiva de Frankenstein”. Até lá, teremos de nos contentar com uma criatura da série B dos monstros clássicos da Universal: “Lobisomem”.

Conhecido pelos roteiros de “Jogos Mortais” e “Sobrenatural” (em ambos, ele também atua), Leigh Whannell já havia escrito e dirigido “O Homem Invisível”, com Elizabeth Moss – que, em 2020, foi um dos últimos filmes a se sair bem nas bilheterias, antes da catástrofe que nos acometeu. E, com o sucesso, ele se tornou pai de pet. É que o adestramento do lobo só foi concluído agora.

Seguindo a mesma toada de reinvenção realista destes monstros, “Lobisomem” mostra que foi mesmo concebido durante a pandemia. Agora, a licantropia não é mais uma maldição, mas uma doença transmissível. Trata também, é claro, de trauma – mas não de uma forma preguiçosa, como muitos filmes de terror andaram fazendo nos últimos anos.

Interpretado por Christopher Abbott, ator que vem fazendo escolhas muito interessantes, Blake foi criado por um pai severo numa casa cercada por floresta. Assim que pôde, cortou relações com ele e foi construir a própria vida na cidade, ao lado da esposa Charlotte (Julia Garner) e da filha Ginger (Matilda Firth).

Muito carinhoso com a filha, Blake fica horrorizado quando, sem querer, perde a paciência e acaba dando uma bronca na menina da mesma maneira que o seu pai teria feito com ele. Em inglês, há a expressão “hurt people hurt people”, isto é, pessoas traumatizadas ou magoadas também traumatizam e magoam as outras – sobretudo, os próprios filhos.

Daí que vem o chamado “trauma geracional”, também já exploradíssimo no gênero. Só que, em vez de transformar o monstro na materialização de toda essa dor, Whannell explora o perigo que vem de dentro. O lobisomem, símbolo clássico da perda do autocontrole, não tem mais tanto a ver com instintos animalescos de violência e sexo, e acaba ganhando um novo sentido.

É a mesma receita de “O Homem Invisível”, que também retrata um passado abusivo como uma presença constante – um violento ex-marido que está bem ali, no canto da sala, mesmo que todos garantam que não há ninguém. O terror de Whannell é este, por mais que a gente tente fugir destas ameaças, elas continuam nos rodeando.

Infelizmente, “Lobisomem” não é tão bem resolvido quanto “O Homem Invisível”. A trama se passa quase toda num mesmo local (mais um aspecto influenciado pelo Coronavírus, talvez). A princípio, a ideia parece interessante, mas logo esgota as suas possibilidades, com os personagens correndo de um ponto A ao B e do B de volta ao A…

O final é muito mais do que telegrafado, é datilografado, enviado por telegrama e registrado em cartório. Por si só, isto não representaria um problema – todos nós sabemos como “Nosferatu” termina –, mas a carga emocional de sua conclusão é praticamente nula. É como se “Lobisomem” não tivesse um clímax. E não ajuda ter uma Julie Garner tão engessada.

Apesar de tudo, é muito interessante ver o ponto de vista de Blake depois que ele é infectado e começa a se transformar. Seus sentidos vão se aguçando e ouvimos como ele ouve, enxergamos como ele enxerga. Junto dele, vamos perdendo a capacidade de compreender e de se comunicar com aqueles que ele mais ama. Ele está isolado e não há como pedir ajuda.

Um verdadeiro pesadelo pandêmico.

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