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Produzido por Jordan Peele, documentário aborda o caso da mulher que decepou o pênis do marido abusivo.
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Em 1993, Lorena Bobbitt cortou o pênis de seu marido abusivo, John Wayne Bobbitt. Na época, a imprensa americana não utilizava a palavra “pênis” e raramente discutia violência doméstica ou estupro marital. Mesmo assim, o espetáculo midiático em torno do caso só seria superado pelo infame julgamento de O. J. Simpson, dois anos depois. Já disponível na Amazon Prime Video, “Lorena” é um documentário de quatro episódios que aborda os dois lados da história, com entrevistas da própria Lorena e de seu ex-marido, além das gravações do tribunal.

Dirigido por Joshua Rofé, e com a produção de Jordan Peele, diretor de “Corra!” e vencedor do Oscar de melhor roteiro original, o documentário trata não só da contenda jurídica entre marido e mulher, mas também de todo o ambiente sociocultural que transformou o caso em uma piada pronta, apesar dos inúmeros abusos que Lorena relatou durante o processo, às vezes com a corroboração de testemunhas. “Eu não acredito nessa história de estupro, ela não é tão bonita assim,” diz o radialista Howard Stern em um dos episódios.

Nos anos 1990, não havia política pública para lidar com a violência doméstica. Quando chamada, a polícia não tinha treinamento para reconhecer ou proteger as vítimas. Muitas mulheres foram – e ainda são – assassinadas de forma brutal, assim como Nicole Brown Simpson, em 1994. Na mídia, e também nos tribunais, os homens denunciados eram sempre inocentes, enquanto as mulheres eram retratadas como mentirosas, doidas e raivosas. Até a prisão de Harvey Weinstein, no ano passado, a reputação do homem sempre foi mais valiosa do que a integridade física e moral de uma mulher.

“Lorena” traz reflexões importantes e que, sem a repercussão do movimento #MeToo, permaneceriam ignoradas pelo público. As vidas que Lorena e John levam, vinte e seis anos após todo o ocorrido, também são mais elucidativas do que qualquer veredito alcançado pelo júri popular. Os problemas que tínhamos em 1993, é claro, ainda não foram solucionados, mas houve avanços inegáveis. Ainda que todo avanço enfrente resistência no sentido contrário, não há mais como voltar atrás. O documentário está com 81% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes.

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