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Com Paul Mescal, o melhor filme de 2022 já está disponível na Mubi.
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Entre “Pequena Mamãe” de Céline Sciamma, “A Filha Eterna” de Joanna Hogg e “Os Fabelmans” de Steven Spielberg , 2022 parece ter sido um ano marcado pela reflexão de quem são os nossos pais – não como arquétipos freudianos, mas como indivíduos complexos, com seus receios e fraquezas.

Ainda que “Pinóquio”, de Guillermo del Toro, não tenha a mesma característica autobiográfica, o diretor mexicano apresenta um Gepeto consumido pela tristeza, que entalha um boneco mal acabado durante uma noite de bebedeira e que luta para aceitar o novo filho do jeito como ele é, e não como o substituto perfeito que ele deveria ser.

Em “Aftersun”, da estreante Charlotte Wells, é a filha que busca na memória uma compreensão maior de quem era seu pai. Por meio de fitas gravadas durante uma viagem à Turquia, a protagonista tenta reconstruir suas lembranças e preencher lacunas com a própria imaginação. Apesar do esforço, há algo de inescrutável na figura paterna interpretada por Paul Mescal.

Callum é tão jovem que aparenta ser o irmão de Sophie, sua filha de 11 anos. Vivida pela revelação Frankie Corio, ela está num ponto crítico da transição da infância para a adolescência. Não são todas as meninas que contam aos pais sobre o primeiro beijo, mas Callum parece ser muito aberto e sensível – e também muito preocupado em criar boas memórias para Sophie.

É como se Callum soubesse que há algo de errado com ele, seja depressão ou o puro peso de seus próprios traumas, e já tentasse compensar pelos momentos de vulnerabilidade e ausência que inevitavelmente virão. “Aftersun” é um filme triste e dolorido, não por retratar uma tragédia, mas porque o amor é, em si, triste e dolorido.

Triste porque, mesmo na intimidade, há uma barreira que mantém aqueles que se amam eternamente separados. Por mais que tentemos, nunca poderemos de fato conhecer o outro e compartilhar de seus sentimentos da forma como ele ou ela os sentem. E dolorido porque as pessoas partem e ficamos apenas com fragmentos de quem elas eram, como um mero souvenir.

Já adulta, Sophie parece atormentada pela visão de seu pai em uma espécie de casa noturna lotada, com um som ensurdecedor e luzes piscantes. É difícil reconhecê-lo entre os flashes de claridade, é difícil alcançá-lo no meio da multidão, é difícil falar com ele ou ouvir o que ele tem a dizer. E, mesmo assim, seguimos tentando.

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