Em 2021, a britânica Carey Mulligan tem duas chances de concorrer ao Oscar – pela sua interpretação ousada em “Bela Vingança” (um título ruim para o inteligente “Promising Young Woman”) e pelo papel de Edith Pretty no melodrama “A Escavação”, já disponível na Netflix. Baseado no romance histórico de Robert Preston, que se passa às vésperas da Segunda Guerra Mundial, “A Escavação” trata dos bastidores de uma incrível descoberta arqueológica em Suffolk, no interior da Inglaterra.
Seguindo um pressentimento, Edith contrata Basil Brown (Ralph Fiennes) para escavar um morro em sua propriedade. Brown não possui formação acadêmica, mas compensa em conhecimento prático. A medida que o seu trabalho avança, suas descobertas no sítio acabam atraindo estudiosos diversos (entre eles, o casal Peggy e Stuart, vividos por Lilly James e Ben Chaplin) – a escavação em si, no entanto, é apenas um pano de fundo para os dramas pessoas dos personagens.
Dirigido por Simon Stone, com roteiro adaptado por Moira Buffini, “A Escavação” é muito mais interessante quando se concentra no relacionamento de Edith e Basil. Aos 35 anos de idade, Mulligan é uma atriz tão madura quanto Fiennes, que é 23 anos mais velho e foi indicado ao Oscar por “A Lista de Schindler” e “O Paciente Inglês”. Sempre que o filme se afasta das duas estrelas (ainda mais para tratar do casamento falido de Peggy e Stuart), ele perde a força e se torna banal.
Em “A Escavação”, há uma tentativa de emplacar um tema mais grandioso, uma discussão dos vestígios que nós deixamos para trás como seres humanos, mas apesar da questão ser tocada aqui e ali, a verdadeira ambição da obra nunca toma forma. Ao descobrir que uma antiga civilização era mais avançada do que o imaginado, a conclusão do filme parece ser a de que, mesmo em períodos sombrios, há amor e amizade – uma descoberta especialmente relevante no início de uma guerra.