Já disponível na Netflix, “Destacamento Blood” conta a história de quatro veteranos da guerra do Vietnã (Delroy Lindo, Clarke Peters, Norm Lewis e Isiah Whitlock Jr.) que retornam ao país, décadas mais tarde, para recuperar os restos mortais do líder do esquadrão (interpretado por Chadwick Boseman) e resgatar um tesouro escondido. Originalmente, o filme teria quatro protagonistas brancos, mas o diretor Spike Lee e seu co-roteirista Kevin Willmott transformaram os personagens em soldados em negros. “Nós mudamos,” disse Lee em entrevista. “Colocamos o nosso tempero, um pouco de molho barbecue, um pouco de funk, de Marvin Gaye e aí está.”
Por incrível que pareça, “Destacamento Blood” quase não saiu do papel. “Fomos atrás de todos os estúdios e todos nos rejeitaram”, afirmou o diretor que acumula 25 longas, um Oscar honorário, recebido em 2015, e um Oscar pelo roteiro adaptado de “Infiltrado na Klan”, sucesso de crítica e de bilheteria de 2018. Assim como David Fincher, Alfonso Cuarón e Martin Scorsese (que fez o seu último filme pela Netflix e fará o próximo pela Apple), restou a Spike Lee recorrer ao streaming, que vem viabilizando projetos mais arriscados, esnobados por estúdios tradicionais, de cineastas de renome.
Com referências de “Apocalypse Now” e “O Tesouro de Sierra Madre”, Lee discute a participação negra na guerra do Vietnã, tema pouco explorado nos filmes do gênero. E é o momento ideal para fazê-lo, dadas as manifestações do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos. Por mais oportuno que seja, no entanto, “Destacamento Blood” não é fácil de assistir. Com inserções de fotos e imagens reais da guerra, o diretor se perde um pouco no excesso de didatismo – por exemplo, um personagem cita a cantora Aretha Franklin, a cena é cortada para mostrar uma foto da própria, como se o espectador não fosse capaz de ligar o nome à pessoa.
Em “Destacamento Blood”, há também uma persistência em tocar em assuntos atuais que nada contribuem à trama, como o uso de Oxycontin por um dos persongens e a crise americana dos opioides, um problema que existe, mas não é pertinente ao tema retratado. É como o garoto jogando videogames violentos durante o assalto de “O Plano Perfeito” (2006), um comentário geral e desorganizado que se resume num “pra você ver como são as coisas, né”. Apesar dos defeitos, Delroy Lindo está memorável como o veterano Paul, um dos poucos personagens realmente tridimensionais da obra.