Em inglês, “moxie” é uma gíria antiquada que denota coragem, ousadia, garra – características que fazem falta no mais novo lançamento da Netflix, “Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta”. Baseado no livro de Jennifer Mathieu, com adaptação de Tamara Chestna e Dylan Meyer, além da direção da atriz e comediante Amy Poehler, “Moxie” conta a história de Vivian Carter (Hadley Robinson), uma garota de 16 anos acostumada a passar desapercebida pelos corredores da escola, sempre ao lado da também comportada Claudia (Lauren Tsai).
Tudo muda com a chegada de Lucy Hernandez (Alycia Pascual Peña), uma aluna nova e cheia de opiniões fortes – quase que imediatamente, ela se torna alvo da ira do atleta Mitchell Wilson (Patrick Schwarzenegger), o reizinho do colégio que faz o que bem entende porque conta com a proteção da diretora Shelly (Marcia Gay Harden). Inspirada pela novata e pelo passado ativista de sua mãe (interpretada por Poehler), Vivian mergulha no punk feminista da banda Bikini Kill e acaba criando uma zine de resistência, intitulada “Moxie!”.
Sem assumir a autoria da revistinha, ela distribui as cópias pelos banheiros femininos. A princípio, ninguém dá muita bola – com o tempo, porém, mais e mais meninas começam a se sentir representadas pelas queixas da publicação, que aponta injustiças cometidas contra as alunas. As leitoras acabam formando um clube e dão início a uma série de protestos pela escola. Quando as coisas começam a ficar mais sérias, no entanto, Vivian terá de criar coragem para assumir os seus atos e sofrer as consequências.
Durante o filme, há uma cena em que a mãe de Vivian comenta sobre os erros do movimento feminista nos anos de 1990, “nós discutíamos umas com as outras, não tínhamos muita interseccionalidade…” – e, de fato, “Moxie” tenta retratar grupos diversos, mas não sabe bem o que fazer com esses grupos. Quando duas meninas se beijam durante um show, é possível imaginar as roteiristas riscando “lésbicas” de uma lista de minorias (não há nada que indique a atração das personagens e o beijo em si não provoca efeito algum).
Fora a representatividade esvaziada de significado, o roteiro de “Moxie” é muito comedido para refletir o que significa o feminismo na era #MeToo, ainda mais para meninas adolescentes. Outros filmes do gênero, como a comédia “Fora de Série”, conseguiram representar a geração Z com mais autenticidade e de uma forma mais divertida, sem os limites rígidos da classificação etária. Para um filme que se inspira tanto no punk, “Moxie” entrega uma rebelião de butique – faltam até os palavrões das letras de Bikini Kill.