“Sou ateu, não acredito na vida após a morte, mas acredito em fantasmas,” disse o diretor americano David Lowery, durante uma entrevista. “Sombras da Vida”, o quarto longa-metragem de sua carreira, começa com uma citação do conto “Casa Assombrada”, da escritora inglesa Virginia Woolf. Sua escrita corresponde perfeitamente à visão que Lowery tem dos fantasmas e de sua relação com a vida e o tempo.
Sucesso no Festival de Sundance de 2017, “Sombras da Vida” foi comparado com “uma refilmagem de ‘Os Fantasmas se Divertem’ feita por Apichatpong Weerasethakul”, o diretor tailandês que venceu a Palma de Ouro em Cannes com o introspectivo “Tio Boonmee Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas” (2010) – ou seja, apesar do fantasma (caracterizado com um tradicional e expressivo lençol furado nos olhos), não se trata de um filme de gênero.
Em “Sombras da Vida”, Lowery volta a trabalhar com Casey Affleck e Rooney Mara, protagonistas também de “Amor Fora da Lei” (2013), outro queridinho de Sundance. Após um acidente fatal, o espírito de Affleck vaga pela casa onde costumava viver, testemunhando a passagem do tempo e o luto de sua viúva (Mara). Em uma cena de cinco minutos de duração, ela devora uma torta inteira de tanta tristeza (durante a pandemia, todos nós já passamos por algo assim).
Sob o selo da produtora A24, com a trilha poética de Daniel Hart e a bela fotografia de Andrew Droz Palermo, “Sombras da Vida” reflete o amor, o tempo e a dissolução inevitável de todas as coisas, o significado de nossa existência e de nossa mortalidade. Graças ao coronavírus, “vai passar” se tornou o lema de 2020 e parece ser também o tema deste filme melancólico de 2017, que já está disponível na Netflix.
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