“Eu detesto o fato de ser a primeira – que, em 2020, ainda temos ‘primeiros’”, disse Gina Prince-Bythewood, a primeira mulher negra a dirigir um filme de super-heróis com um grande orçamento. Baseado nos quadrinhos de Greg Rucka, “The Old Guard” trata de um grupo de guerreiros imortais encabeçado por Andromache (Charlize Theron) – no filme, “Andy” nunca revela a sua verdadeira idade, mas ela tem mais de 6 mil anos na HQ e está cansada de lutar.
“Ela quer fazer o bem e proteger a humanidade, mas só vê o mundo piorando cada vez mais… Me identifiquei com essa mulher que está buscando por um propósito e que precisa de um motivo para continuar”, declarou a diretora. E, para Andy, um dos motivos é a chegada de Nile (Kiki Layne), uma soldada americana que descobre a própria imortalidade, após uma ferida fatal em um confronto no Afeganistão.
Apesar das boas cenas de ação, “The Old Guard” sofre com uma trilha sonora genérica e um roteiro fraco. É difícil conceber personagens milenares tão suscetíveis a tramoias e conspirações. E, por mais que 2020 seja terrível, não acredito que uma mulher que sobreviveu à Inquisição consideraria o século XXI tão desesperador assim – mas tudo bem, é sempre um prazer ver a Charlize Theron fazendo filmes de ação.
Outro aspecto positivo é a presença do casal gay Joe (Marwan Kenzari) e Nicky (Luca Marinelli), uma representatividade efetiva, com direito a beijo e declaração de amor, e não somente uma sugestão en passant, como é recorrente nos filmes da Marvel. “Não quis ser chamativa, mas quis ser realista… Joe e Nicky fazem parte desse mundo, são dois homens guerreiros que se amam há milênios”, declarou Prince-Bythewood.
Com um final aberto e cena pós-crédito, que acomoda uma possível sequência, “The Old Guard” poderia muito bem se tornar uma série divertida, com flashbacks de Andy em diferentes períodos da história da humanidade – sempre abusando da suspensão da descrença do espectador, é claro, mas entretenimento é o que importa.