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Série produzida pela A24 leva rixa entre Steven Yeun e Ali Wong até o limite.
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Quando o meme do “asian father” despontou no Tumblr, a Internet não era mais mato, já tinha uma dúzia de estradas de terra. O fundo do meme era o vórtice listrado, um padrão da época, com o rosto de um ator coreano mais velho no centro. Os dizeres tiravam sarro das cobranças exageradas que muitos pais asiáticos têm em relação aos filhos, como “A-SIANS, NOT B-SIANS”.

Sucessos recentes como “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” e a animação “Red: Crescer é uma Fera” reforçam o fundo de verdade no meme de outrora. Em “Treta”, série produzida pela A24 e disponível na Netflix, os pais dos protagonistas nem são tão ativos na trama, mas são evidentes os efeitos de duas criações rigorosas e cheias de exigências.

O fantástico Steven Yeun, um dos melhores atores de nossa geração, interpreta Danny Cho, um “pau pra toda obra” que tenta, sem grande sucesso, fazer o seu negócio deslanchar para trazer os pais coreanos à América. Em um dos piores dias de sua vida, ao sair do estacionamento de uma loja, ele é cortado por uma SUV branca e, num acesso de fúria, persegue o carro.

A motorista é Amy Lau, vivida pela comediante Ali Wong. Num polo oposto, Amy conquistou tudo o que ela “deveria” conquistar – sucesso profissional, uma casa bonita, um marido gostoso e uma filha fofa. Mesmo assim, nada parece bom o suficiente. Ansiosa para vender o próprio negócio e passar mais tempo com a família, ela precisa manter uma fachada “zen” – mas a fachada tem rachaduras.

Amy transita por um universo tilelê que a vê com um olhar distorcido e até fetichista, com gente rica interessada em culturas “exóticas” e outras pessoas brancas recitando expressões japonesas (mesmo Amy não sendo japonesa). Danny, por sua vez, é diariamente desvalorizado por clientes e até mesmo pelo irmão mais novo.

Fato é que tanto Danny como Amy sofrem por não corresponder às expectativas dos outros. Quando o amor dos pais é condicional, resta aos filhos uma eterna – e infrutífera – busca por validação. E no capitalismo, só há uma forma de demonstrar o nosso valor: dinheiro. A rixa entre os dois, nascida durante uma discussão boba de trânsito, irá evidenciar o que é mesmo importante.

Criada por Lee Sung-jin, “Treta” pode ser desagradável de assistir em alguns momentos porque, apesar dos inúmeros defeitos que os dois têm e das atitudes cada vez mais bizarras que eles tomam, nos simpatizamos por Danny e Amy e, até certo ponto, entendemos as suas motivações. É doloroso vê-los tomando decisões cada vez piores – mas assim é a vida.

No nono e penúltimo episódio, uma cena importante é acompanhada por “All Is Full of Love”, da cantora Björk. A letra diz que tudo está repleto de amor, você só não está recebendo (o telefone está fora do gancho, as portas estão fechadas). O amor vai chegar, talvez não de onde você espera. “Treta” é a história de um amor inesperado, que brota de uma profunda insatisfação.

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