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Filme de Céline Sciamma retrata romance entre duas mulheres do século XVIII.
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Não há como estragar o final de “Retrato de uma Jovem em Chamas”, pois não há surpresa ou revelação. Todos sabem que, ao tentar resgatar Eurídice dos mortos, Orfeu desobedeceu ao comando de Hades e olhou para trás, perdendo a sua amada para sempre. De “Thelma & Louise” a “Me Chame Pelo Seu Nome”, histórias da comunidade LGBTQ têm quase sempre o mesmo final trágico do mito de Orfeu e Eurídice – o importante, contudo, não é o que acontece, mas por que acontece.

Em 1770, a pintora Marianne (Noémie Merlant) é contratada para pintar o retrato de Héloïse (Adèle Hainel) sem que ela saiba, pois o quadro irá garantir um casamento arranjado, a contragosto, com um homem desconhecido de Milão. Disfarçada de dama de companhia, Marianne observa cada traço de Héloïse e tenta concluir o seu trabalho em segredo, mas da intimidade entre as duas logo nasce um amor proibido.

Escrito e dirigido pela francesa Céline Sciamma, a mesma de “Tomboy”, “Retrato de uma Jovem em Chamas” lembra uma espécie de “Jane Eyre” lésbico, em que a alegria de um novo amor é acompanhada pela sensação de uma desgraça iminente (no caso, a conclusão do retrato e a inevitável despedida). Por alguns dias, porém, elas vivem em uma utopia feminina. Enquanto a criada Sophie (Luàna Bajrami) começa um bordado florido, Marianne e Héloïse cuidam dos serviços domésticos – há liberdade, igualdade e fraternidade.

Além de discutir temas atuais, com “Retrato de uma Jovem em Chamas”, Sciamma propõe uma arte que reflita verdades afetivas. Quando Sophie termina o seu bordado, as flores que ela utiliza como referência já estão mortas. Ainda que tudo mude e se transforme na superfície, Héloïse ensina à Marianne que há sentimentos mais profundos, dignos de serem eternizados por poetas e artistas. Graças ao filme, tanto o mito de Orfeu como “As Quatro Estações” de Vivaldi ganham uma nova conotação.

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