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O cinema está vivo ou morto? Sim.
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No paradoxo do físico Erwin Schrödinger, um gato preso numa caixa fechada pode estar vivo e morto ao mesmo tempo. Desde a sua origem, o cinema é “vivomorto” (ou um morto-vivo, em homenagem a George Romero). Quando exibido como uma mera curiosidade tecnológica pelos irmãos Lumière, ele estava morto. Quando Méliès nos levou à Lua, ele estava vivo. Os três pioneiros franceses eram também contemporâneos, nascidos entre 1861 e 1864.

Desde então, o cinema vem vivendo e morrendo – nunca de maneira linear, como um messias que morre e ressuscita, mas simultaneamente, como alguém que é mordido por um vampiro e passa a eternidade em transição (sim, todas as minhas referências são de terror). Talvez, o cinema seja como uma maldição, um feitiço. Há mais de um século, geração pós geração decreta o seu final iminente, mas a mandinga é muito forte.

Por “cinema”, entenda aqui a experiência coletiva de ver filmes num local destinado para tal e na companhia de estranhos. Uma prática que, ao longo das décadas, atravessou guerras e crises econômicas. Sobreviveu também às ameaças do rádio, da televisão, do videocassete, do videogame, da TV a cabo, do DVD, da internet e do streaming. Não seria uma pandemia que daria o golpe de misericórdia. E nem será a chamada “inteligência artificial”.

Pessimildos vêm chorando as pitangas porque a indústria ainda não conseguiu replicar o sucesso de “Barbenheimer”, um acontecimento extraordinário e, em grande parte, orgânico Houve uma pesada campanha de marketing, é claro, mas uma tentativa de promover um “Beetlesilvio” (misturando a sequência de “Beetlejuice” com a cinebiografia de Silvio Santos, ambos programados para 05/09) não colaria, muito provavelmente.

“O Dublê” abriu a temporada de blockbusters – que começa cada vez mais cedo nos Estados Unidos – com números decepcionantes. “Planeta dos Macacos – O Reinado” até que se saiu bem. Logo em seguida, no entanto, veio o fracasso inexplicável de “Furiosa”. Como um filme tão elogiado pela crítica e tão perfeito para a tela grande não conseguiu atrair o público?

Pensando no esgotamento dos super-heróis, poderíamos tirar a conclusão de que as pessoas não estão mais interessadas em sequências, refilmagens ou reboots (“O Dublê” é derivado de uma série oitentista que ninguém viu). Assim, “Barbenheimer” teria inaugurado uma nova era dourada de obras originais e com um toque autoral – mas não é bem assim.

“Divertida Mente 2” acaba de ultrapassar “Duna: Parte 2” na bilheteria, abocanhando US$724 milhões ao redor do mundo. Até o momento, no Top 10 de 2024, temos apenas dois títulos originais, que ocupam a nona e a décima posição: “Amigos Imaginários”, filme infantil de John Krasinski, e a cinebiografia de Bob Marley (“O Dublê” e “Furiosa” seguem logo atrás).

Também no Top 10, temos três animações infantis: “Divertida Mente 2”, “Kung Fu Panda 4” e o novo “Garfield”. O sucesso inesperado da Pixar, que vinha enfrentando uma maré de azar com seus últimos lançamentos, pode refletir a necessidade de mais produções direcionadas às crianças – com o diferencial de que “Divertida Mente” também atrai os adultos que pagarão pelos ingressos da família toda.

A mensagem que isto passa à Disney – conglomerado que, diante de um incêndio, tentaria apagar o fogo com copos de whisky – é que o povo está clamando por mais 52 sequências de “Toy Story” e “Procurando Nemo”, diminuindo ainda mais o legado de uma produtora antes celebrada pela criatividade. O cinema não está morto como Bela Lugosi, mas causa crises de ansiedade.

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