Em novembro de 2008, dez membros de um grupo terrorista coordenaram ataques em pontos diversos de Mumbai, na Índia. Um dos alvos escolhidos foi o Taj Mahal Palace, um luxuoso hotel de cinco estrelas, que já hospedou inclusive a realeza britânica. Em filmes e séries que tratam de atentados e desastres naturais em países “exóticos”, é comum acompanharmos protagonistas brancos, sob o pretexto de que o público internacional precisa se identificar com as vítimas – como acontece em “Horas de Desespero” (2015) e “O Impossível” (2012).
A morte de diversos locais (em Mumbai, foram 174 mortos e 300 feridos) serviria apenas como um pano de fundo para o heroísmo de mocinhos loiros, o que não é o caso de “Atentado ao Hotel Taj Mahal”. No filme de estreia do diretor Anthony Maras, o californiano Armie Hammer (de “A Rede Social” e “Me Chame Pelo Seu Nome”) não é o grande herói. Interpretado por Dev Patel, de “Quem Quer Ser um Milionário?”, Arjun é um garçom sikh que arrisca a própria vida para salvar os hóspedes do hotel. No Hotel Taj, afinal, “o hóspede é Deus”.
Em tese, devemos nos emocionar com o sacrifício desses funcionários, que vivem em pobreza extrema, mas escolhem permanecer no hotel para servir mafiosos russos e socialites racistas. É correto, no entanto, transformar a tragédia de centenas de famílias indianas (inclusive dos policiais locais que, apesar das condições mais precárias, enfrentaram os terroristas) em entretenimento? “Atentado ao Hotel Taj Mahal”, afinal, é um filme de ação muito bem filmado, com cenas de suspense e gestos heroicos – tanto dos mocinhos como dos bandidos.
Com roteiro assinado pelo próprio Maras e também por John Collee, o filme entretém, mas ainda acomoda certas nuances. O mafioso russo, a socialite racista e até os terroristas islâmicos são tratados como seres humanos, com motivações próprias que, apesar das consequências mais repugnantes, fazem algum sentido. Ainda que os roteiristas tenham tido a boa intenção de tornar os personagens mais complexos, “Atentado ao Hotel Taj Mahal” derrapa no tom. Nos créditos finais, somos informados de que o hotel foi restaurado e continua em funcionamento – um detalhe que não importa, dada a perda humana.