Quando “Os Incríveis 2” estreou, tanto o Globo de Ouro como o Oscar de Melhor Animação pareciam definidos. É provável, no entanto, que a terceira maior bilheteria de 2018, logo após “Pantera Negra” e “Vingadores: Guerra Infinita”, fique de mãos abanando. “Homem-Aranha no Aranhaverso” já ganhou o Globo de Ouro, falta só o prêmio da Academia. Com um visual tão distinto que levou a Sony a solicitar a patente da tecnologia utilizada – uma mistura de CGI e desenho à mão, com uma estética retrô de quadrinhos e pop art – “Aranhaverso” é um show de cores e onomatopeias.
Dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman (com a produção de Christopher Miller e Phil Lord, dupla responsável por “Uma Aventura Lego”), cada quadro é composto por uma imagem digital e uma camada de desenhos à mão. Em geral, para animar apenas quatro segundos de algum projeto, é necessário uma semana de trabalho. No caso de “Aranhaverso”, que tem duração de 116 minutos, cada segundo do produto final levou uma semana. Todo o esforço é ainda mais notável nas vibrantes sequências de ação.
Diferente de todos os seis “Homem-Aranhas” lançados nas últimas duas décadas (três com Tobey Maguire, dois com Andrew Garfield e, por enquanto, um com Tom Holland), o herói de “Aranhaverso” não é Peter Parker, mas Miles Morales, um adolescente negro de origem latina. Nada mais justo do que, depois de todas estas versões, variar um pouco os personagens e adicionar também uma garota, um justiceiro da década de 1930, uma menina japonesa que comanda um robô e também um porco falante de desenho infantil. Em “Aranhaverso”, todos podem ser Homem-Aranha e todos os estilos de animação podem contar a sua história.
Miles (voz de Shameik Moore) descobre um plano do Rei do Crime (Liev Schreiber) para combinar realidades paralelas, o que provoca um acidente interdimensional no subsolo de Nova York e reúne todas as versões de “Homem-Aranha”, incluindo Peter B. Parker (Jake Johnson), Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), Peni Parker (Kimiko Gleen) e Porco-Aranha (John Mulaney). Juntos, eles terão de derrotar os vilões que trabalham para Wilson Fisk, incluindo Duende Verde e Doc Ock, e restaurar a ordem do multiverso.
“Aranhaverso” retorna o herói ao estilo em que foi concebido, com cores intensas, balões de fala e o pontilhismo típico dos primeiros quadrinhos. Sua trama absurda só faz sentido em uma animação, transformá-la em live-action seria empobrecer toda a experiência, descartar movimentos e detalhes preciosos que encantam os olhos. “Aranhaverso” é, portanto, uma carta de amor aos quadrinhos, à animação e ao personagem central, com toda a sua multidão de possibilidades – e uma excelente homenagem ao criador Stan Lee, que faz uma de suas últimas participações.