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Primeira parte de uma lista pessoal.
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Esta lista, em ordem cronológica, não tem pretensão alguma de ser definitiva. São escolhas pessoais que podem mudar completamente com o passar das décadas. Às vezes, precisamos da distância do tempo para avaliar o que ainda vive na memória e por qual motivo, mas estes são os filmes que tenho carregado comigo desde a virada do século:

Pulse (Kairo)

Não está disponível via streaming.

“Ringu – O Chamado”, lançado em 1998 por Hideo Nakata e refilmado em 2002 por Gore Verbinski, é o filme mais proeminente do chamado j-horror, a onda de terror japonês que marcou a virada do século 20 para o 21. Contudo, o subgênero não seria o mesmo sem a participação de Kiyoshi Kurosawa, um dos cineastas de maior destaque do cinema japonês contemporâneo.

Com estreia no Festival de Cannes de 2001, “Pulse” é um filme de terror que trata de tecnologia e solidão vinte anos antes de passarmos por uma espécie de burnout pandêmico em decorrência das constantes reuniões no Zoom. Kurosawa não aposta em sustos ou sanguinolência, mas numa atmosfera melancólica e apocalíptica que, lentamente, toma posse do espectador.

O Chamado

Disponível para aluguel via Claro, Google Play, Amazon e Apple.

Em meados dos anos 2000, muitos declaravam que a refilmagem americana era inferior ao original japonês. De fato, “Ringu – O Chamado” foi muito importante para alavancar o j-horror, como já mencionei acima. Sou da opinião, no entanto, de que a refilmagem explora melhor o passado de Sadako/Samara e tem cenas inesquecíveis, como a do cavalo ensandecido na balsa.

Verbinski é um diretor extremamente talentoso que deu azar na carreira, amargou dois fracassos de bilheteria seguidos com “O Cavaleiro Solitário” (estrelado por um canibal e um abusador) e o belo mas desajambrado “A Cura” – e está, desde então, num limbo profissional. Mas é inegável a sua habilidade de composição de quadros. “O Chamado” não é só assustador, mas lindo.

O Hospedeiro

Disponível na Netflix e no Looke.

Antes mesmo de conquistar o mundo com “Parasita”, o coreano Bong Joon-ho já era exímio em mesclar gêneros e tons diferentes num mesmo filme e, às vezes, numa mesma cena. “O Hospedeiro” pode ser apreciado como terror, comédia e drama – e ainda trata das diferenças de classe, da falta de preocupação com o meio ambiente e da interferência americana no cenário mundial.

Por algum motivo que eu nunca soube explicar muito bem, ver a criatura de “O Hospedeiro” correndo pelo parque num dia ensolarado enquanto todos se desesperam é algo que sempre me comove, pela pura felicidade de ver um monstro completamente visível, sem estar encoberto por chuva ou escuridão, e pela magia do cinema de tornar o impossível em possível.

[REC]

Disponível na Amazon, no Looke e na Mubi.

Dentro do vasto universo do terror, uma das minhas paixões é o subgênero do found footage ou “imagens encontradas”, no estilo de “A Bruxa de Blair”. Mesmo quando um filme found footage é ruim, o que acontece frequentemente, há algo de cativante na sensação de presenciar um evento que “aconteceu de verdade”, um certo prazer voyeuristíco.

O espanhol [REC] é, na minha opinião, o melhor found footage já feito. Cria uma desculpa perfeitamente aceitável para continuar filmando o tempo todo, sempre de forma verossímil (sem abandonar a gramática do subgênero no meio do caminho) e não telegrafa os próprios sustos. Também deu início a uma franquia em que apenas um dos filmes é dispensável (o terceiro).

O Orfanato

Disponível na Netflix.

Uma co-produção espanhola e mexicana, com a benção de Guillermo del Toro, “O Orfanato” marca a estreia de J.A. Bayona na direção e é também o seu melhor filme até agora. Vencedor de sete prêmios Goya, inclusive melhor roteiro e melhor diretor estreante, “O Orfanato” também tem a participação de Édgar Vivar, o Sr. Barriga de “Chaves”.

Apesar de ter sido feito em 2007, o filme lembra a atmosfera gótica de clássicos como “Os Inocentes”, adaptação de “A Volta do Parafuso”, a celebrada novela de Henry James. Há também uma influência evidente de “Poltergeist”, com Geraldine Chaplin fazendo a sua versão de Zelda Rubinstein.

Deixe Ela Entrar

Não está disponível via streaming.

O terror sueco dirigido por Tomas Alfredson, que depois foi refilmado por Matt Reeves, causou um rebuliço nos festivais da época com uma abordagem completamente nova do subgênero vampiresco, que então vinha sofrendo nas mãos de “Crepúsculo”. Trata-se de um romance agridoce entre duas crianças solitárias, Oskar e Eli.

Há sangue e violência, mas o filme fica na memória sobretudo pelo clima melancólico – sei que é a segunda vez nesta lista que eu menciono melancolia como algo positivo – de um amor inesperado entre um menino que sofre bullying e uma jovem vampira (há certa dubiedade no filme com relação ao gênero de Eli, o que também só enriquece a sua mitologia).

O Segredo da Cabana

Disponível via streaming na OiPlay e para alugar na Claro, Google Play, Amazon e Apple.

“Pânico” de Wes Craven foi um divisor de águas no terror americano graças à sua metalinguagem. Dirigido por Drew Goddard (que anda sumido, infelizmente), “O Segredo da Cabana” utiliza o mesmo recurso, mas com uma trama engenhosa para justificar a tendência pós-moderna.

Para apaziguar deuses ancestrais, os humanos desenvolvem rituais de sacrifício muito mais elaborados do que uma simples decapitação no alto de uma pirâmide maia e transformam a coisa toda numa forma lucrativa de entretenimento. Questionando clichês do gênero, “O Segredo da Cabana” termina num confronto apocalíptico com uma participação super especial.

Devo publicar o resto da lista na semana que vem.

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