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Com mais de 90 anos de história, nem sempre o Oscar premiou os melhores.
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Como em toda premiação, os membros da Academia obedecem requisitos arbitrários, nem sempre assistem tudo que é indicado e estão suscetíveis às campanhas mais agressivas de marketing, o que pode variar de acordo com o grau de influência dos produtores e não com a qualidade dos filmes em si. Se nem sempre os melhores ganham, por que se importar com o Oscar? Porque o prêmio abre portas e facilita não só os projetos futuros dos ganhadores, mas de qualquer produção que se encaixe no molde de um filme vencedor. Ou seja, um Oscar ajuda a ditar o que deve ou não ser feito, reconhecido e copiado – mesmo que seja a escolha errada.

Com mais de 90 anos de história, as injustiças cometidas pelo Oscar se tornam ainda mais evidentes graças à passagem do tempo, pelas obras que permanecem memoráveis, apesar de suas derrotas momentâneas. Já na primeira edição, ocorrida em 1929, “Asas” (1927) levou o grande prêmio da Academia e “Aurora” (1927) foi celebrado como o melhor “filme único e artístico”, uma categoria que logo seria extinta. Por mais que, atualmente, muitos críticos considerem “Aurora” como a obra-prima do cinema mudo, “Asas” (que não é ruim, mas não conta com o mesmo apreço do filme de F. W. Murnau) foi consagrado como o primeiro vencedor da história.

Ainda nos primórdios, outro erro foi a vitória de “Grande Hotel” (1932), melodrama recheado de estrelas como Joan Crawford e Greta Garbo, no lugar de “O Expresso de Shanghai” (1932), um dos melhores frutos da parceria alemã entre o diretor Josef von Sternberg e a deusa Marlene Dietrich. No ano seguinte, em 1933, Mae West dominou a bilheteria interpretando uma charmosa cantora em “Uma Loira para Três”. Aos 40 anos de idade, West fez par romântico com o jovem Cary Grant, então aos 29. Em um período anterior à censura de Hollywood, a obra repleta de insinuações sexuais salvou a Paramount da falência, mas não levou o Oscar.

Em 1936, o esquecível “Ziegfeld – O Criador de Estrelas”, sobre a vida do produtor teatral Florenz Ziegfeld, derrotou o tocante “Fogo de Outono”, além dos clássicos “O Galante Mr. Deeds” e “A Queda da Bastilha”. Em 1937, a Academia seguiu premiando biografias de artistas, tendência que continua bastante viva até os dias de hoje – e, assim, “Cupido é Moleque Teimoso”, uma das melhores comédias já feitas, estrelada por Irene Dunne e Cary Grant, acabou perdendo para “Emile Zola”, em que o ator Paul Muni interpreta o célebre escritor francês.

O gênero da comédia, porém, nem sempre foi menosprezado. Em 1938, “Do Mundo Nada Se Leva”, a comédia açucarada de Frank Capra, tomou a estatueta do brilhante “A Grande Ilusão”, dirigido pelo francês Jean Renoir (a categoria de melhor filme estrangeiro só seria implementada em 1947). Outros fortes concorrentes do ano eram “Jezebel”, do injustiçado William Wyler, e o britânico “Pigmalião”, que serviria de base para “My Fair Lady” (1964) e tantas outras adaptações de moças ignorantes/simplórias que são moldadas pelo amor de homens cultos/famosos, passando pelo perturbador “Gigi” (1958) até o mais recente “Nasce Uma Estrela” (2018).

1939 foi, talvez, o ano mais prolífero de Hollywood, com concorrentes excelentes como “O Mágico de Oz”, “A Mulher Faz o Homem”, “No Tempo das Diligências”, “O Morro dos Ventos Uivantes” e “Ninotchka” – mas foi a sensação “…E o Vento Levou” que saiu vitoriosa. Apesar de certas conotações racistas, foi graças ao filme que a atriz Hattie McDaniel se tornou a primeira vencedora negra do Oscar. Antes dela, nenhum outro negro havia sido sequer indicado ao prêmio da Academia. Mesmo assim, ainda há quem diga que “O Mágico de Oz” ou “No Tempo das Diligências” deveriam ter levado a estatueta (“Ninotchka” é o meu preferido).

A decisão não ficou mais fácil na década de 1940. “Rebecca, a Mulher Inesquecível” ganhou de “O Grande Ditador”, “As Vinhas da Ira” e “Núpcias de Escândalo”. “Como Era Verde o Meu Vale” derrotou “Cidadão Kane”, “Relíquia Macabra” e “Suspeita”. Embora os vencedores, assim como “Asas”, não sejam necessariamente ruins, “O Grande Ditador” e “Cidadão Kane” são dois dos maiores clássicos da história do cinema e, mesmo assim, perderam. Muitos estudiosos dividem o cinema americano entre antes e depois de “Cidadão Kane”.

Em 1944, o drama musical “O Bom Pastor” venceu “À Meia Luz”, filme com Ingrid Bergman e Joseph Cotten, um suspense cujo conceito de “gaslight” continua influenciando a nossa cultura, mais de setenta anos após a sua estreia. Uma das maiores obras do cinema noir, “Pacto de Sangue”, com Barbara Stanwyck e Edward G. Robinson, também foi derrotada. Em 1945, Billy Wilder foi premiado por “Farrapo Humano”, contra os excelentes “Alma em Suplício” e “Quando Fala o Coração” – Alfred Hitchcock, aliás, nunca ganhou um único Oscar de melhor diretor, apenas o prêmio honorário de 1968.

Na Parte II, comentarei os melhores perdedores da década de 1950 até 2019.

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