Em continuação à primeira parte:
A década de 1950 começa com a derrota de “Crepúsculo dos Deuses”, clássico absoluto de Billy Wilder, para “A Malvada”, obra primorosa de Joseph L. Mankiewicz. Apesar do diálogo afiado e da performance genial de Bette Davis, nada deveria superar Gloria Swanson como Norma Desmond, uma atriz decadente que acaba sucumbindo à psicose. Em 1952, filmes como “Matar ou Morrer” e “Depois do Vendaval” perderam para o fraco “O Maior Espetáculo da Terra”.
No ano seguinte, “A um Passo da Eternidade”, famoso pelo beijo sensual entre Deborah Kerr e Burt Lancaster, venceu o adorável “A Princesa e o Plebeu” (de William Wyler, sempre injustiçado pela Academia) e “Os Brutos Também Amam”, faroeste homenageado no recente “Logan” (2017). Já em 1956, qualquer um dos indicados – “Assim Caminha a Humanidade”, “O Rei e Eu”, “Os Dez Mandamentos” e “Sublime Tentação” – seria uma escolha melhor do que “Volta do Mundo em 80 Dias”.
Em 1957, dois grandes perdedores passados em tribunais: “12 Homens e uma Sentença”, clássico de Sidney Lumet com Henry Fonda, e “Testemunha de Acusação”, um espetáculo com Marlene Dietrich e Charles Laughton (dois anos depois, “Anatomia de um Crime”, de Otto Preminger, também perderia a estatueta). Em 1958, o musical “Gigi” derrotou “Gata em Teto de Zinco Quente”, “Acorrentados” e “Vidas Separadas”. “Gigi” trata de uma menina adolescente que é cobiçada por um homem adulto. O verso de um de seus números musicais diz “Graças a Deus pelas menininhas”. Pois é.
Os anos 1960, aliás, foram recheados de musicais vencedores, em total dissonância com os acontecimentos no mundo. “Amor, Sublime Amor” ganhou de “Desafio à Corrupção” e do excelente “Julgamento em Nuremberg”. “Dr. Fantástico”, de Stanley Kubrick (que também nunca ganhou um Oscar de melhor diretor), perdeu para “My Fair Lady”, com Audrey Hepburn. Os mais injustiçados da década são “O Sol é Para Todos” e “A Primeira Noite de um Homem”, com menções honrosas para “Uma Rajada de Balas” e “Butch Cassidy”.
Na década de 1970, um dos períodos mais criativos de Hollywood, algumas omissões importantes: “A Última Sessão de Cinema”, do brilhante Peter Bogdanovich; “O Exorcista”, indicado em 10 categorias e vencedor apenas dos prêmios de roteiro adaptado e mixagem de som; “A Conversação”, um dos melhores trabalhos de Francis Ford Coppola, depois de “O Poderoso Chefão”; “Barry Lyndon”, a verdadeira obra-prima de Kubrick; “Tubarão”, clássico de Steven Spielberg e “Taxi Driver”, filme fundamental de Martin Scorsese.
Os absurdos continuaram nos anos 1980, com a derrota do sensível “O Homem Elefante”, de David Lynch, dos fenomenais “Os Caçadores da Arca Perdida” e “E.T. – O Extraterrestre” (ambos de Spielberg), e também de “Ligações Perigosas”, filme de época dirigido por Stephen Frears – a vitória de Olivia Colman no Oscar deste ano foi uma surpresa agradável, mas a Academia deve estatuetas para Glenn Close há mais de 30 anos.
Nos anos 1990, a Academia perdeu a oportunidade de premiar “Os Bons Companheiros”, “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, “Razão e Sensibilidade” e “Fargo”. No começo do século 21, o Oscar passou a se distanciar ainda mais do cinema comercial, preferindo premiar filmes que não foram grandes sucessos de bilheteria. Os injustiçados incluem: “Gangues de Nova York”, “Encontros e Desencontros”, “O Segredo de Brokeback Mountain” e a obra-prima absoluta “Sangue Negro”.
Ignorado em 2010, “A Rede Social” antecipou a onda de misoginia em que vivemos agora, retratando um Mark Zuckerberg socialmente inapto e cuja única motivação para criar uma empresa bilionária era se vingar da ex-namorada. Em 2011, a Academia voltou a menosprezar Scorsese e deixou de premiar o melhor filme do ano, “Hugo”. “Brooklin”, com Saoirse Ronan, também deveria ter ganho em 2015, e “La La Land” em 2016 (desculpe, “Moonlight”). 2017 foi um ano atípico, com pelo menos cinco candidatos muito bons: “A Trama Fantasma”, “Lady Bird”, “Corra!”, “Me Chame Pelo Seu Nome” e o vencedor de fato, “A Forma da Água”.
E todos sabem quem foi o vencedor moral deste ano: “Roma”.