Foi a mãe de Taika Waititi, Robin Cohen, quem deu a ideia de adaptar o romance de Christine Leunens, “O Céu Que Nos Oprime”, ao diretor de “Thor: Ragnarok” e “O Que Fazemos nas Sombras”. No livro, passado em Viena no final da década de 1930, Johannes Betzler faz parte da Juventude Hitlerista e descobre que os seus pais estão escondendo uma garota judia em casa, atrás de uma parede falsa. Na versão cinematográfica, a ação se passa na Alemanha, já nos anos de 1940, e Johannes (ou Jojo) ganha um amigo imaginário: o próprio Hitler, interpretado por Waititi.
Indicado em seis categorias do Oscar, inclusive melhor filme e roteiro adaptado, “Jojo Rabbit” traz o estreante Roman Griffin Davis como Jojo, Scarlett Johansson vivendo a sua mãe Rosie (melhor aqui do que em “História de Um Casamento”) e a talentosa Thomasin McKenzie como Elsa, a garota judia. Sam Rockwell, Rebel Wilson e Stephen Merchant interpretam oficiais nazistas diversos. De humor cartunesco e direção preciosa, “Jojo Rabbit” lembra uma paródia de Wes Anderson, com uniformes engraçados e excentricidades levadas ao extremo – em uma das cenas, Hitler janta uma cabeça de unicórnio.
Por motivos óbvios, satirizar o nazismo não é uma tarefa fácil. Nomes como Charlie Chaplin e Mel Brooks souberam fazê-lo com tamanha maestria, é impossível não comparar “Jojo Rabbit” com “O Grande Ditador” ou “Os Produtores” (veja também “Sou ou Não Sou”). Waititi não parece tão preocupado em provocar simpatizantes do pensamento totalitário (em 2020, infelizmente, são muitos), mas em criar alguma empatia pelo “inimigo”, nem que seja pelo caminho do interesse romântico, em uma relação mais problemática do que a de Rey e Kylo Ren em “Star Wars”.
Se, por um lado, a caracterização de Hitler como um ídolo afável serve para demonstrar como uma ideologia assassina pode ganhar espaço na sociedade – o que, a esta altura, nós já sabemos –, o humanismo do diretor, com nazistas ora atrapalhados e ora compreensivos, também pode aparentar uma ingenuidade perigosa, dado os horrores da Segunda Guerra Mundial. No fim, por mais divertido ou curioso que seja, “Jojo Rabbit” termina sem ofender ou incomodar o principal alvo de sua suposta sátira, como uma sessão da tarde minimamente engajada.