Com uma carreira cinematográfica de quase três décadas, Adam Sandler é conhecido por comédias duvidosas e poucos filmes recomendados pela crítica. Entre os mais elogiados, estão “Os Meyeworitz”, “Embriagado de Amor” e, agora, “Joias Brutas” – ou seja, trabalhos dramáticos de diretores “sérios” como Noah Baumbach, Paul Thomas Anderson e os irmãos Safdie. Mesmo em papéis cômicos, porém, Sandler incorpora uma energia caótica que, sob a liderança correta, é fácil de ser conduzida ao trágico (veja o excelente “Afinado no Amor”).
Em “Joias Brutas”, novo lançamento da Netflix, Sandler interpreta Howard Ratner, dono de uma joalheria no Diamond District, em Nova York. Viciado em jogatina, Howard pretende quitar as dívidas com uma pedra preciosa importada de uma mina etíope. Seus planos, no entanto, acabam desmoronando depois que o jogador de basquete Kevin Garnett (interpretado por ele mesmo) visita a loja e se apaixona pela pedra, pressionando Howard a emprestá-la e desencadeando uma série de problemas.
No filme, Sandler é o típico “schlemiel” da cultura iídiche, um parvo que não consegue escapar da própria natureza, semelhante ao George Costanza de “Seinfeld” ou ao protagonista de “Um Homem Sério”. Seu carisma de azarão nos faz torcer por ele, ainda que tudo que o seu personagem faça seja repreensível. Dirigido pelos irmãos Josh e Benny Safdie, “Joias Brutas” remete ao cinema novaiorquino da década de 1970, uma visão sem glamour de uma metrópole suja e repleta de anti-heróis. Não por acaso, Martin Scorsese é um dos produtores.
De ritmo frenético e fotografia claustrofóbica, “Joias Brutas” provoca uma sobrecarga dos sentidos à primeira vista. Howard é cafona, usa roupas extravagantes e se esquece de tirar a etiqueta. São muitos gritos, insultos e barulhos… É depois que o filme acaba, ao som de “L’Amour Toujours (I’ll Fly With You)” de Gigi D’Agostino, que “Joias Brutas” parece crescer e ganhar sentido. De toda forma, tome um paracetamol antes de assistir.