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De onde vem o sucesso do filme "Five Nights at Freddy's"?
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Oi, meu nome é Ieda, tenho 37 anos (teria se estivesse viva), morri aos 36 em São Paulo-SP. Envie isto para 20 pessoas (com o link do apoia-se) e minha alma estará sendo salva. Caso não repasse esta mensagem, vou visitar-lhe hoje à noite. Não quebre esta corrente.

Quem não se lembra da Samara, morta aos 13 em Cascavel-PR, a assombração mais famosa da internet brasileira nos anos 2000? A geração Z pode nunca ter ouvido falar nas correntes virtuais que recebemos em nossos emails BOL, mas a sementinha que deu origem ao jogo “Five Nights at Freddy’s” (ou “FNAF”) foi plantada ali.

Com a chegada dos fóruns e das redes sociais, as correntes se transformaram em “copypasta” (derivado de copiar + colar), termo usado pela primeira vez no 4chan, em 2006. As lendas urbanas e os contos de terror que logo se espalharam, como “Slender Man” ou “Jeff the Killer”, ganharam a alcunha de “creepypasta” (creepy = sinistro).

Basicamente, aquelas histórias que crescemos ouvindo de algum colega de escola, como o boneco Fofão com uma faca escondida no corpo ou a gangue de palhaços que sequestrava crianças, migraram para a internet – não ipsis litteris, mas com o mesmo teor. Há vários tipos de “creepypasta”, mas não é raro encontrarmos a boa e velha subversão de algum ícone infantil.

Na infância, os millennials foram atormentados pelos rumores de um episódio perdido de “A Caverna do Dragão” em que o Mestre dos Magos e o Vingador são a mesma pessoa. Já a geração Z teve o suposto suicídio de Lula Molusco, do desenho “Bob Esponja”, e um Sonic macabro em uma cópia amaldiçoada do videogame “Sonic.exe”.

No nicho dos jogos independentes, as creepypastas foram/são essenciais. YouTubers como PewDiePie (hoje em dia, com 111 milhões de inscritos) ou Markiplier (35 milhões de inscritos) se estabeleceram na plataforma graças aos vídeos em que reagiam exageradamente aos sustos de jogos como “Slender: The Eight Pages”, baseado em “Slender Man”.

Além disso, as creepypastas também inspiraram séries de vídeos no estilo “ARG”, sigla para “alternate reality game” ou “jogo de realidade alternativa”, em que os fãs são instigados a investigar pistas para desvendar o “lore”, isto é, a história de fundo dos eventos apresentados. Não basta mais colocar a faca dentro do boneco do Fofão, é preciso descobrir cada minúcia de como aquela faca foi parar ali.

É nesse contexto que “FNAF” surge, em agosto de 2014. O sucesso foi imediato e rendeu 9 sequências oficiais, fora derivados. Uma febre entre crianças e adolescentes, “FNAF” ajudou a criar o “terror de mascote”, subgênero que segue rendendo frutos com jogos como “Bendy and the Ink Machine”, “Poppy Playtime” ou “Choo-Choo Charles”.

Inspirado na Chuck E. Cheese, uma rede de restaurantes infantis dos Estados Unidos, “FNAF” se passa numa pizzaria chamada “Freddy Fazbear’s Pizza”, um lugar com bonecos animatrônicos que cantam e dançam. Durante a noite, porém, os bonecos ganham vida e tentam atacar o segurança. O jogador deve monitorar as câmeras e sobreviver aos ataques por 5 noites.

Da mesma forma que a série “Stranger Things” foi meticulosamente projetada para apelar à nostalgia dos millennials, emulando clássicos da sessão da tarde como “Os Goonies” ou “ET”, o novo filme “Five Nights at Freddy’s – O Pesadelo Sem Fim” tem como alvo as memórias afetivas da geração Z.

E o alvo foi atingido. Com um orçamento de US$25 milhões, a produção da Blumhouse já passa dos US$130 milhões na bilheteria. É a maior estreia da produtora, ultrapassando “Halloween”. As críticas, no entanto, não foram positivas. No Rotten Tomatoes, “FNAF” tem uma aprovação de 26% da crítica e de 88% do público.

Os críticos, em grande maioria, não cresceram jogando “FNAF” ou assistindo ao canal do Markiplier no YouTube. O público, sim. Ou seja, o filme dirigido por Emma Tammi e estrelado por Josh Hutcherson tem pouco a oferecer a quem já não tenha um carinho especial pelo universo do videogame.

Com cinco roteiristas – incluindo o criador do jogo, Scott Cawthon –, a adaptação parece mais preocupada em agradar aos fãs, com vários acenos e “easter eggs”, do que em conquistar um público novo. Diferente de “M3GAN”, outro sucesso da Blumhouse baseado numa premissa estapafúrdia, não há senso de humor ou tensão.

Mike (Hutcherson) é um segurança que tenta sonhar com o momento exato do rapto de seu irmão mais novo para reaver algum detalhe que possa esclarecer o seu paradeiro. Toda a sua família desmoronou após o sequestro e solucionar o crime seria uma forma de retornar ao passado e recomeçar do zero.

No meio desse trauma todo, há também uma enrolada disputa pela custódia da irmã de Mike, que arrisca perder mais um membro de sua família já tão reduzida… Quanto drama para um filme sobre bonecos assassinos manufaturados pela companhia dos “Muppets”, né? Aliás, se há algo para elogiar em “FNAF” é a decisão de trabalhar com bonecos práticos.

De resto, o roteiro é ruim e a diretora faz um trabalho genérico. Há uma morte boa, mas sem sangue, para honrar a classificação PG-13. É o pior dos mundos no gênero do terror, um filme que deveria ser divertido, mas que exagera no dramalhão; e que, apesar da pegada dramática, a violência ainda tem de ser mínima.

Nos cinemas, a franquia “FNAF” está só começando. Resta aos millennials o conforto de saber que a nostalgia da geração Z é tão “cringe” quanto a nossa – em algum lugar, um jovem berra “que cringe falar cringe”!

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