“Poderia Me Perdoar?” trata da história real de Lee Israel, uma escritora com dificuldades financeiras – aluguel atrasadíssimo e um gato idoso com caras despesas veterinárias – que decide falsificar cartas pessoais de autores ilustres, como Dorothy Parker e Noel Coward, para vendê-las a colecionadores literários. Afinal, a satírica Dorothy Parker já dizia: “Eu não me importo com o que escrevam sobre mim, desde que não seja verdade”.
Interpretada por Melissa McCarthy em rara atuação dramática, Lee vive com o gato Jersey em um apartamento imundo, onde enfrenta um bloqueio criativo com doses puras de whiskey. Seu último livro, uma biografia da empresária Estée Lauder, é vendido a preço de banana nas livrarias de Nova York. Sua agente literária está cansada de lidar com os seus projetos obscuros e a sua personalidade irascível. O único amigo de Lee é o boêmio Jack Hock (Richard E. Grant), uma espécie de Oscar Wilde indigente, que vira o seu parceiro no crime.
Dirigido por Marielle Heller, de “O Diário de uma Adolescente”, “Poderia Me Perdoar?” é indicado em 3 categorias do Oscar: roteiro adaptado, ator coadjuvante e atriz principal. Conhecida por personagens pitorescos, de comédias como “Missão Madrinha de Casamento” e “A Espiã que Sabia de Menos”, McCarthy interpreta Lee como uma misantropa sensível – sua incapacidade de criar, sem tomar a identidade de outra pessoa, esconde o medo de usar a própria voz e se tornar vulnerável à rejeição.
Um dos mais simpáticos concorrentes ao Oscar, Grant é também bastante verossímil como o amigo destrambelhado, que não é muito confiável, mas topa qualquer esquema. Mesmo com dois párias sociais (além de desajustados, ambos são gays) no centro de um enredo passado nos anos 1990, o roteiro nunca adota um tom moralista – Lee e Jack não são julgados ou perdoados por suas ações. O espectador tem acesso a todas as nuances do caso que é baseado no livro da própria Lee Israel, publicado em 2008.
Sem um pingo de glamour, “Poderia Me Perdoar?” é a resposta perfeita para quem acredita naquele velho adágio atribuído a Confúcio: “Escolha um trabalho que você ame e você nunca terá que trabalhar um dia em sua vida”. Dorothy Parker mesmo dizia que odiava escrever, mas adorava ter escrito. Porque toda forma de expressão – inclusive esta – é um esforço, uma luta diária contra as deficiências do bolso, da mente e do coração.