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Filme de Ridley Scott transporta Jodie Comer, Matt Damon e Adam Driver para a França medieval.
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Aos 84 anos, o diretor britânico Ridley Scott lançou dois filmes em 2021. “Casa Gucci” foi um sucesso de bilheteria, mas é “O Último Duelo” que merece atenção. Baseado em um caso verídico da França medieval, Jodie Comer interpreta Marguerite, a esposa do cavaleiro Jean de Carrouges (Matt Damon), que acusa Jacques Le Gris (Adam Driver) de estupro.

Na Europa medieval, o estupro podia ser um crime passível de pena de morte, mas não era visto como uma violência contra a mulher, mas ao seu pai ou esposo. Assim, em 1386, Sir de Carrouges foi buscar satisfação com o rei Carlos VI, que acabou decidindo que a questão seria resolvida em um duelo entre o marido da vítima e o acusado.

Pela lógica irracional do período, se o marido for o vencedor do duelo, em acordo com a vontade de Deus, significa que Marguerite não mentiu sobre o estupro. Se Le Gris sobreviver ao combate, no entanto, de Carrouges seria enforcado e sua esposa queimada viva – pois Deus, é claro, jamais permitiria que o mal vencesse.

Dividido em três partes, “O Último Duelo” traz a versão dos homens envolvidos no caso (com roteiro assinado pela dupla vencedora do Oscar de 1998, Matt Damon e Ben Affleck) e, por fim, a versão de Marguerite, que é a verdadeira (segmento escrito por Nicole Holofcener, roteirista do brilhante “Poderia me Perdoar?”).

Em uma espécie de “Rashomon” ocidental, as três versões tratam dos mesmos acontecimentos, mas com pequenas variações que fazem toda a diferença, graças à mudança de perspectiva. A proposta pode parecer repetitiva, mas “O Último Duelo” é estranhamente divertido de acompanhar, mesmo tratando de um tema tão pesado.

Affleck dá vida a um lorde viciado em sexo que protagoniza algumas das cenas mais engraçadas do filme – assim como em “Garota Exemplar”, o ator se dá melhor com o papel de babaca, parece mais natural. Damon e Driver também se entregam aos seus impulsos mais baixos, enquanto se imaginam como os heróis das próprias histórias.

Scott destrói a ideia romantizada, típica em filmes de Hollywood, da noblesse oblige, de cavaleiros cheios de virtude e honra. Em “O Último Duelo”, os homens são vermes mercenários, sempre preocupados com a posição que ocupam na sociedade. A abordagem arrojada não é novidade para Scott, que também dirigiu o feminista “Thelma e Louise”, em 1991.

A batalha final é uma das sequências mais bem dirigidas e editadas de 2021, um espetáculo de horror que comprova a boa forma de Ridley Scott e que também intensifica o argumento de que a história da humanidade é moldada pela violência e pelo egocentrismo da masculinidade tóxica.

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