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O Rotten Tomatoes e a derrocada da profissão do crítico de cinema.
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Hoje, a matéria mais lida da Vulture trata da “decomposição do Rotten Tomatoes”, agregador de críticas que, apesar de ser facilmente manipulado, exerce uma influência enorme na indústria cinematográfica. Criado há 25 anos, o site tira uma média das opiniões e determina se um filme é, como um tomate no hortifruti, “podre” ou “fresquinho” – sem meio termo.

Há menos de um mês, um artigo no New York Times apresentou influencers que falam de cinema para milhões de seguidores em seus canais do TikTok, em contraposição à ultrapassada mídia tradicional. Os influencers, é claro, são pagos pelos estúdios, enquanto o crítico profissional recebe (ou deveria receber) um salário de sua publicação para manter as análises isentas.

No início da greve dos roteiristas de Hollywood, que já passa de quatro meses, muitas pessoas ficaram em dúvida se críticos deveriam continuar trabalhando, mesmo não sendo bancados pelas produtoras – numa clara confusão entre o papel do influencer e o ofício de um crítico “de verdade”. E esta confusão é proposital.

Antes, uma ressalva: há influencers que abusam dos superlativos porque estão interessados em ganhar a vida fazendo propagandas, além do acesso privilegiado a pré-estreias e sacochilas promocionais, e há também influencers éticos que fazem um trabalho belíssimo de reflexão, mesmo que vivam de “publi”.

Hoje em dia, todo crítico profissional (isto é, que tem formação e é pago para dar o seu veredito, seja positivo ou negativo) também precisa ser um pouco influencer e vender o seu peixe nas redes sociais. O mesmo ocorre com médicos, arquitetos, advogados e toda sorte de profissão. Todos nós nos transformamos, ou fomos transformados, em produtos.

No universo da crítica de cinema, no entanto, essa confusão entre o profissional e o assessor de imprensa é ainda mais insidiosa. Um exemplo: quando uma distribuidora sabe que tem uma bomba em suas mãos, ela deixa de fazer uma “cabine de imprensa”, a exibição prévia aos críticos, mas planeja uma pré-estreia badalada direcionada aos influencers.

Assim, as primeiras avaliações cadastradas no Rotten Tomatoes são mais positivas e, só dali uma semana, quando ninguém mais estiver prestando atenção, é que a nota irá cair vertiginosamente. No texto da Vulture, há o caso da estratégia equivocada do último “Indiana Jones”, que estreou em Cannes, em vez de ser exibido primeiro aos fãs.

Para os estúdios, é interessante que o público não faça distinção entre a opinião de alguém que foi pago para elogiar e a opinião de alguém que fala com embasamento e neutralidade, ainda que todos nós estejamos sujeitos às nossas próprias preferências. É também interessante a precarização da profissão do jornalista cultural, para que ele dependa de outras fontes de renda.

De acordo com Martin Scorsese, o Rotten Tomatoes reduz o diretor a um “fabricante de conteúdo e o espectador em um consumidor pouco aventureiro”. Para os bilionários que se recusam a pagar 0,01% do que arrecadam àqueles que fazem a sétima arte, é interessantíssimo que o cinema seja compreendido como nada mais do que uma transação comercial.

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