Em Hollywood, há a nostalgia boa e a nostalgia ruim. A nostalgia boa nos reconecta com algo valioso que foi perdido ao longo do caminho; a ruim é uma mera repetição de fórmulas desgastadas na tentativa de arrancar mais uns trocados do espectador. O novo “Rivais” faz parte do primeiro grupo. Apesar do roteiro original, há a sensação de reencontrar um velho amigo (ou vários velhos amigos).
Esses velhos amigos não estão no elenco, composto pelos jovens Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor – os três servem muito bem ao propósito do filme, que vai e volta no tempo com a mesma velocidade de uma bola de tênis viajando de um lado ao outro. São atores de 27, 32 e 33 anos, respectivamente, com feições e tipos físicos que transitam facilmente entre a adolescência e a vida adulta.
Na fase adolescente, vemos a dupla de tenistas Patrick Zweig (O’Connor) e Art Donaldson (Faist), também conhecida no esporte como “Fogo e Gelo”, tentando seduzir Tashi (Zendaya), um prodígio do tênis feminino. O olhar embasbacado dos dois amigos, acompanhado da trilha sonora eletrizante de Trent Reznor e Atticus Ross, lembra a cena de uma sessão da tarde oitentista – por exemplo, quando Phoebe Cates sai da piscina em “Picardias Estudantis”.
A perspectiva masculina, embora problemática, tem a sua função em “Rivais”. É Tashi quem instrumentaliza o desejo dos garotos. É ela quem decide quando as relações se desenrolam ou não. Já na vida adulta, também é ela quem gerencia a carreira do marido – só que Tashi queria dominar a paixão do Fogo, mas acabou escolhendo a estabilidade do Gelo.
Dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, “Rivais” passa longe da pegada mais calma de “Me Chame Pelo Seu Nome”, mas o tom subversivo e a temática LGBTQ ainda estão presentes. Há até uma bandeja de pêssegos no vestiário de Art. Na tela do cinema, vemos esses twinks monumentais, com corpos esguios que parecem gigantes, sempre prestes a devorar uns aos outros. Dá até saudades da exuberância da juventude, de quando o suor ainda era sexy.
Guadagnino casa o estilo ao conteúdo com tomadas arrojadas, do ponto de vista da bola de tênis ou mesmo da quadra em que os jogadores se enfrentam. Uma discussão de casal tem cortes de diferentes ângulos, como se fosse o replay de uma jogada. Além da sensualidade oitentista, “Rivais” lembra a experimentação frenética da virada do século, de filmes que desafiavam a linguagem de maneira divertida, como “Corra, Lola, Corra”.
São vários os velhos amigos que reencontramos em “Rivais”: o filme original e de orçamento médio, que não é baseado em quadrinhos ou videogames; a sensualidade que reinava antes da Disney dominar o entretenimento; o star power de uma jovem atriz levando o público aos cinemas; o prazer em ver imagens que vão além do mais preguiçoso e mal iluminado plano americano.
Há, sim, exageros aqui e ali. A duração de pouco mais de duas horas e o vai e volta temporal podem ser cansativos, mas é de se esperar que um filme tão dado aos arroubos de paixão tenha traços de destempero. De toda forma, é preferível que Hollywood peque pelo excesso de criatividade do que pela escassez. E “Rivais” chega como uma chuva refrescante após um longo período de seca.