O título original de “O Predador – A Caçada” é simplesmente “Prey” (“presa”). No Brasil, é claro, o nome precisa deixar evidente que faz parte de uma franquia para atiçar os espectadores. Apesar da presença do alienígena do clássico de 1987, com Arnold Schwarzenegger, “A Caçada” pouco tem a ver com os outros filmes – o que é uma de suas maiores qualidades.
Depois de uma década e meia de Marvel, estamos todos cansados de sequências, refilmagens e reboots que, para forjar um universo próprio, tentam fazer a trama girar ao redor de referências e acenos aos espectador nerd, como se perguntassem constantemente “lembra disso?” – essa nostalgia obsessiva contaminou todo o cinema comercial, de “Star Wars” a “Halloween”.
Já “A Caçada” não faz a menor questão de resgatar personagens antigos ou de fazer piadas internas. É uma história completamente nova, que não depende de qualquer conhecimento pregresso. O predador está ali porque, talvez, o filme jamais teria sido produzido sem algum elemento conhecido pelo público, mas o antagonista poderia ser qualquer outro monstro.
Dirigido por Dan Trachtenberg, mesmo diretor do surpreendente “Rua Cloverfield, 10”, “A Caçada” se passa em 1719, nas Grandes Planícies. Interpretada pela atriz indígena Amber Midthunder, Naru faz parte da tribo comanche e não aceita se juntar às outras mulheres para coletar plantas. Ela quer ser uma caçadora e sair junto com os homens.
Papéis sociais são atribuídos às mulheres desde que nos entendemos por gente. Em uma sociedade que depende da violência para sobreviver, o “sexo frágil” é relegado aos afazeres domésticos. Naru, no entanto, percebe coisas que nem mesmo o seu irmão, o melhor caçador da tribo, consegue perceber – é ela quem dá o alerta sobre a chegada de uma criatura muito mais perigosa do que um urso ou um leão montanhês.
A criatura é um assustador alienígena com visão térmica, que busca um oponente merecedor de suas habilidades mortais no planeta Terra. Há um paralelo interessante entre a caça predatória do alienígena, que estraçalha todos os animais que encontra pela frente, e a pilhagem desenfreada de um grupo de colonos franceses. Afinal, ambos são invasores.
De início, o predador não enxerga Naru como uma ameaça, mas ele irá se arrepender deste prejulgamento. “A Caçada” não economiza em sangue ou violência. Tudo é bem coreografado e filmado. É uma pena o filme ter sido lançado direto no streaming, porque a fotografia de Jeff Cutter merece uma tela grande. A trilha sonora de Sarah Schachner é outro destaque (deixe os créditos finais rolando e aproveite).
Disponível na Star+, “A Caçada” é falado em inglês, com alguns trechos em francês, mas há a opção de assistir a versão dublada em comanche pelos próprios atores indígenas. A cachorrinha Sarii, que acompanha Naru, e que foi adotada especialmente para o filme é também uma estrela – e, não se preocupe, ela sobrevive.