Vencedor do Oscar de longa internacional, “Druk – Mais Uma Rodada” poderia ser uma espécie de “Se Beber Não Case” dinamarquês ou um novo “Farrapo Humano”. Em vez disso, Thomas Vinterberg escolheu trilhar um caminho intermediário, unindo no mesmo filme a alegria de uma bebedeira com as consequências mais trágicas de um vício. Em entrevistas, o diretor revelou que foi a sua filha quem o convenceu a aceitar o projeto – e que, dias após o começo das filmagens, ela morreu em um acidente de carro, o que provocou mudanças significativas no tom da obra.
“Druk” conta a história de quatro professores em crise de meia-idade que acabam inventando um experimento pseudocientífico. De acordo com o estudo de um psiquiatra norueguês, o corpo humano sofre com uma uma deficiência natural de 0,05% de álcool na corrente sanguínea. Para testar a teoria, eles decidem beber durante o dia (em horário de trabalho) e ver como o desempenho deles é afetado. No início, tudo vai bem. As aulas ficam mais cativantes e até o relacionamento em família melhora, mas logo 0,05% não é mais suficiente para o grupo.
Interpretado por Mads Mikkelsen (que volta a trabalhar com Vinterberg após o elogiado “A Caça”), Martin é um homem que ficou entediante com o passar dos anos. Ignorado pelos alunos, pela esposa e pelos próprios filhos, o experimento com os amigos é, então, uma forma de disfarçar a dor e a decepção com o que a vida se transformou. Quando Martin está sóbrio, Mikkelsen atua como uma pedra, pesado e imóvel – e, quando bebe, ele se torna leve e dinâmico. É um papel ideal para Mikkelsen, que foi dançarino profissional antes de se tornar ator.
Vinterberg, no entanto, está mais interessado nas pessoas que bebem do que no ato em si, retratando os personagens de forma humana e complexa, em vez de elogiar ou punir as suas ações. Sem uma conclusão totalmente hedonista ou moralista, “Druk” faz uma reflexão do que nos torna vivos, e a que custo – trata da leve excitação após duas taças de vinho e das atitudes que tomamos para lidar com a frustração de uma vida banal. Uma tragicomédia que é, ao mesmo tempo, vibrante e melancólica, como as melhores mesas de bar.